terça-feira, 16 de dezembro de 2014

sábado, 13 de dezembro de 2014

Credo


Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;

Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. amém.


Natália Correia 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Praça da Figueira (de manhã)




A praça da Figueira de manhã,  
Quando o dia é de sol (como acontece  Sempre em Lisboa), nunca em mim esquece,  Embora seja uma memória vã. 

Há tanta coisa mais interessante  
Que aquele lugar lógico e plebeu,   Mas amo aquilo, mesmo aqui... Sei eu  Porque o amo? Não importa. Adiante... 

Isto de sensações só vale a pena  
Se a gente se não põe a olhar para elas.    Nenhuma delas em mim serena... 

De resto, nada em mim é certo e está  
De acordo comigo próprio.  As horas belas  São as dos outros ou as que não há.


Álvaro de Campos, 10- 1913

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Para quando em Lisboa?


Rossio, Natal de 2014

(Rossio 2014)
(Rossio 2014)
Lisboa está pobremente engalanada, neste Natal de 2014...António, o precário, «arrendatário» no Rossio, disse-me, que ainda assim, pobre, as luzes da Praça onde dorme, iluminam a (sua) noite. 

(c) ana paula lemos

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Pai Natal em Lisboa

Independentemente das crenças e símbolos que cada um adota, não há como fugir ao ícone do Natal moderno: o Pai Natal.

Em Lisboa, são muitos os locais onde comuns mortais trabalhadores (provavelmente precários) se vestem de barbas e encarnado para alimentar a lenda. Os pais levam as crianças, movidas mais a presentes do que a significados, em filas intermináveis, bem ao lado das que se formam para alimentar a azáfama da época. Apesar das crises, o Pai Natal continua na moda. O Centro Comercial Colombo continua a ser um dos patrocinadores deste tipo de magia. O Pai Natal estará por lá e até cumpre horário! Tirar uma fotografia com o velhote custa apenas tempo e paciência. E vontade, já agora.

Feliz Natal!

(um) Herói...

Não sei contar os dias mas na cidade choveu. Os dias nunca se contam, explicava-me André, porque a métrica dos dias está sujeita ao tempo da eternidade. Quantos dias tem a eternidade, perguntou. Subíamos os dois a calçada da Bica sem nos conhecermos. Olha-mo-nos quando a frase chegou ao meu tempo e ouço: «quando eu morrer gostava de ir para o Panteão».
- Mas o André sabe que não pode ir para o Panteão…
- Porque não? Sinto-me um herói…
- Sim, mas não chega sentir-se um herói; é preciso corresponder aos desígnios do legislador, aos atributos da lei…
- Eu correspondo! Sou um dos portugueses que ajudou Portugal a resgatar a liberdade perdida pelo «pacto de agressão». Isto, claro, se houver tempo, como não podemos contar os dias, pensemos no mês de Maio.

Não fosse o Sol e nunca teria conhecido André.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

7 biliões de outros...(visite) a exposição...


...No Museu da Electricidade até 8 de Fevereiro de 2015. Faça uma viagem à volta do mundo e conheça os problemas, sonhos e as esperanças de todos os povos do mundo. É um retrato extraordinário da humanidade. 



quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Pensão Amor

Sexta-feira, 23:00, Cais do Sodré: que azáfama...o destino talvez fosse a Pensão do Amor...o lugar onde Rita disse ter amado Pedro, Francisco, João, António...No Cais do Sodré, porém, um jovem menino chorava, desesperado, por € 1,45: carregou mal o bilhete e o seu destino parecia-lhe impossível. A avó fazia quatro horas que o esperava na estação de Oeiras. A angústia do menino era insuportável.
Mas ninguém tinha tempo, sequer para o ouvir. Afinal, se não corressemos todos para a Pensão do Amor, perdiamos a oportunidade de não estarmos sós. E essa circunstância, claro, seria tão insuportável como as lágrimas do menino.


(c) ana paula lemos 

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

(um) dos mais belos romances...

...em e sobre Lisboa...

A Literatura portuguesa (segundo George Steiner)

«Quanto à literatura portuguesa, Steiner elege três autores: Pessoa – “perceber Pessoa é ouvir as vozes dentro de nós” –, Saramago – cujo O Ano da Morte de Ricardo Reis leu e releu e considera ser “sempre um livro maravilhoso” – e Lobo Antunes, “o maior escritor português vivo da actualidade” a quem “Portugal não deu ainda o devido reconhecimento”. Uma simpatia forte vai também para Camões, de que não há uma boa tradução inglesa, mas que merece uma afirmação contundente de Steiner: “falta à nossa cultura Europeia o conhecimento do génio de Camões”.

João Reis Ribeiro, blogger Nesta Hora

Nota: George Steiner é um dos maiores eruditos europeus vivos.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

De Ofélia (para Fernando Pessoa)

«Meu Nininho adorado:

Recebi a tua grande cartinha que me causou surpresa e por isso alegria pois que
não esperava, quando cheguei a casa é que minha mãe ma deu. Eu [,] meu Fernandinho além de não estar nada boa não foi esse o motivo por que não estive no nosso ponto de encontro à hora marcada, tive que sair com minha irmã e não estava despachada à hora precisa para te encontrar, sabes a que horas fomos almoçar? (ou por outra viemos almoçar porque almoçámos em minha casa) eram duas e tal. Já vês meu lindo amor que era impossível encontrar-te… Vejo que ficaste ralado e em cuidados o que me satisfez imenso, não é pelo facto de gostar que te rales e apoquentes, não [,] amor [,] é por ver que te interessas bastante pelo teu bebezinho [;] e nunca te arrependas meu amorzinho porque eu mereço bem os teus interesses por mim porque te estimo tanto quanto é possível estimar um homem (um Nininho). Mas não fazes ideia Fernandinho as saudades imensas que de ti tenho tido e tenho! Supõe por ti, amor, tenho estado hoje verdadeiramente doente, triste por te não ver, e ralada com coisas que soube, enfim o que se resume de tudo isto é que eu não tenho o direito de andar bem disposta, não mereço gozar felicidade alguma! Serei tão má para que mereça tanto? Hei-de ter sempre de que me ralar, mas sempre. Ao menos resta-me a esperança em ti, em ser feliz contigo, e ter alegria no futuro.
Escreveste tão poucochinho! Podias ter escrito mais [,] meu amor!»

Ofélia 

08.04.1920

Lisboa (tesouro da Europa) segundo o NYT



“ Haverá país mais azul que Portugal? O céu azul e o Oceano Atlântico abraçam a terra. O humor azul do fado, a melancolia da música, formam a trilha sonora nacional. E por todo Portugal, os típicos azulejos azuis estão espalhados por igrejas, mosteiros, castelos, palácios, paredes de universidades, parques, estações de comboios, hotéis e fachadas de prédios.O resultado é uma embelezada terra de santos cristãos, episódios bíblicos, Reis portugueses, glórias históricas, paisagens, design florais e, acima de tudo, motivos geométricos. (…)».

New York Times

A arte de Jen Lewin...


Instalação interativa "The Pool"


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

«Não se rendam!»


Ao meu lado, num banco de jardim, sentou-se uma lágrima, depois outra e, por fim, juntou-se a nós, uma lágrima seca, salgada. Deixámos que as nossas lágrimas conversassem umas com as outras. Todas elas estavam muito preocupadas connosco. Debatiam-se inteligentemente na reflexão sobre a vida e o mundo.
Já no fim da conversa, a minha lágrima, solta um grito: «Não se rendam»!


(c) ana paula lemos 


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Um milagre em Lisboa...

Nasceram. Do que dependia da esfera do humano, haveria poucas probabilidades para o seu nascimento. Mas nasceram. Têm 26 semanas e quatro dias. Medem pouco mais do que a mão de um adulto e pesam muito menos do que os ingredientes necessários para a receita de um bolo. Não têm a volumetria própria dos humanos com 36 semanas mas, fisicamente, são perfeitas. A mãe, quando as visitou pela primeira vez, soube dizer os seus nomes, a partir da relação que as três foram travando ao longo das semanas que partilharam o mesmo corpo, nessa absoluta intimidade de amor. Deixei-as, na tranquilidade do sono, uma hora depois do seu nascimento. A vida já me fez muitas perguntas, para as quais, ainda procuro respostas. Desta vez, porém, quem me interrogou, violentamente foi o «Céu». Dois seres humanos, sós, absurdamente sós, apenas com 26 semanas, travam no silêncio, o mais sublime diálogo com a Vida: «o que farás Eternidade com cada minuto da nossa existência?».

(Sem título)


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Tivesse eu mais tempo...

Tenho o velho hábito de me aproximar das pessoas, sobretudo, na rua, quando pressinto que lhes posso ser útil. Tivesse eu, mais tempo, dispusesse eu do tempo com tempo, e poucas horas sobrariam, depois destes encontros, para o tempo néscio da minha lástima. Desta vez, era mulher, só, teria 50 anos (?) e vagueava pelo imponderável da vida, sofrida, sem rumo, à procura de nada mais, a não ser, de quem a ouvisse, risse, chorasse (de tanto) como ela, na gota desesperada da lágrima, que parecia não chegar ao céu, mas sim, chegou, e a abraçou, falou, riu e chorou. 
Não, não vos sei dizer mais nada, a não ser que comunhão e compaixão, podem ser sinónimos de redenção.

(c) ana paula lemos 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

A Arquitectura Palaciana Urbana de Lisboa Séculos XVI a XVIII...(hoje) na Culturgest



José Sarmento de Matos, um dos maiores olissipógrafos contemporâneos, é conferencista de um Ciclo que a Culturgest dedica à Arquitectura Palaciana Urbana de Lisboa Séculos nos XVI a XVIII.
O tema desta terceira conferência aborda os Palácios do período Joanino e o Barroco Romano (1.ª metade do séc. XVIII).

Entrada Livre ( 18:30) 

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A rua como palco da intimidade...

Aquele homem esqueceu-se de si. O corpo, as palavras, eram lágrimas de desespero. Gostava de lhe ter dito que não se morre de amor. Mas, como não tenho a certeza, pedi-lhe que não se esquecesse de si. Não ouvia. Não queria nem podia ouvir. Desfazia-se nela, na amada, e no silêncio vergonhoso da alma.

A rua é cada vez mais o palco da intimidade e, a vida privada, o espectáculo que consumimos gratuitamente. Aqui, em Lisboa, o metropolitano transformou-se no laboratório vivo da História Privada.

(c) ana paula lemos 

domingo, 16 de novembro de 2014

(Dias do Desassossego)...Nas ruas de Lisboa




Novembro levou-nos Pessoa e trouxe-nos Saramago

Veja programa em http://www.josesaramago.org/dias-desassossego-de-15-17-de-novembro/ 

sábado, 15 de novembro de 2014

Vista do Mosteiro de São Vicente de Fora


Haunted Lisbon Tour e Dark Lisbon Tour

Se gosta de histórias de assombração, estas experiências são para si

Marcação prévia
912 301 329
info@ghost-tours-portugal.pt
Preço dos bilhetes: 18€ (público em geral, 15€ (estudantes, séniores e grupos) e 10€ (crianças)

Hoje (na) Culturgest...Ana Papoulis Adamovic


O solo Mirage transmite, através de dança, música e filme, reflexões fragmentadas sobre as trevas do nosso tempo e a busca da beleza para combater essas trevas. Desenvolve-se em 17 cenas curtas.Este solo é o culminar de anos de reflexão.A dança ao vivo dialoga com imagens que foram filmadas em diferentes épocas da minha vida, em Nova Iorque, Sarajevo, Liubliana, Paris e outros lugares.

Ana Papoulis Adamovic
(coreógrafa) 


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

(na Voz do Operário) ARQUICTETURA DO RUÍDO APRESENTA...



Hoje, 14 de Novembro 2014:

O programa de rádio Arquitetura do Ruído, da Rádio Zero, apresenta, todas as sextas-feiras, a partir das 22h, concertos no Vox Café - Voz do Operário. Neste evento, público e artistas interagem em formato café-concerto, com proximidade e descoberta.


Vamos deixando pedaços de nós pela vida, no mundo. O que fazem os outros com os nossos gestos, afectos, emoções, sensibilidades? E o que fazemos nós com o Ser do outro? Territórios inabitados, memórias descartáveis, ecos, plástica do tempo, lugar sagrado, viagem, (…), tudo isto e nada? É a pergunta que vos deixo…

(c) ana paula lemos 


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Lisboa entaxada

Quanto pagarias para entrar em Lisboa?

(no) Chiado...

Duarte pintava pela noite dentro debaixo de um chapéu de sol junto à Igreja dos Mártires, no Chiado. Quem passasse podia ler: «preciso de ajuda, tenho 19 anos, sou estudante do 2º ano de pintura, no ESBAL». Parei. Enquanto desenhava fomos conversando... falou da avó, da mãe, e um pouco de si. Pedi-lhe que não desistisse do Curso. «Não, nem pensar». Nem todas as palavras «não» têm a mesma intensidade. Aquela estava carregada de determinação, esperança e confiança. Duarte pintou a mãe natureza e o desenho voou.

(c) ana paula lemos 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

domingo, 9 de novembro de 2014

(de) Fernando Pessoa para Ophélia

“Cheguei à idade em que se tem o pleno domínio das próprias qualidades, e a inteligência atingiu a força e a destreza que pode ter. É pois ocasião de realizar a minha obra literária, completando umas coisas, agrupando outras, escrevendo outras que estão por escrever. Para realizar essa obra preciso de sossego e um certo isolamento...
Toda a minha vida futura depende de eu poder ou não fazer isto, e em breve. De resto, a minha vida gira em torno da minha obra literária...Tudo o mais na vida tem para mim um interesse secundário...É preciso que todos os que lidam comigo, se convençam de que sou assim, e que exigir-me os sentimentos, aliás, muito dignos, de um homem vulgar e banal, é como exigir-me que tenha olhos azuis e cabelo louro.
...............................

Gosto muito – mesmo muito – da Ophelinha. Aprecio muito a sua índole e o seu carácter. Se casar, casarei consigo. Resta saber se o casamento, o lar, são coisas que se coadunam com a minha vida de pensamento.....”.

29 de Setembro de 1929

sábado, 8 de novembro de 2014

A propósito do Livro do Desassossego...

O Livro do Desassossego é um laboratório vivo de sensações. É o exercício literário através do qual, Fernando Pessoa supera o tédio de uma cidade provinciana, labiríntica, triste, divorciada dos grandes movimentos artísticos europeus, uma cidade onde nada acontece, mergulhada na confusão política da implantação da Republica, preparando-se para a guerra, para a I Guerra Mundial. 
Fernando Pessoa transforma, assim, Lisboa, na cidade universal por excelência, onde desaguam todos os rios do mundo, aqui no Tejo, aqui na Baixa Lisboeta, cenário de todas as cidades, sonhadas, através dos seus heterónimos, esse exercício literário, através do qual, Pessoa se entrega à imaginação e fantasia...

A si, caro leitor, em que é que Lisboa desassossega a alma? 


(c) ana paula lemos 



sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Misty Fest

de 4 a 14 de novembro

4/11 | CCB | Lisboa | Maria de Medeiros
5/11 | CCB | Lisboa | Joan As Police Woman
5/11 | CCB | Lisboa | Celina da Piedade
5/11 | Cinema São Jorge | Lisboa | Patxi Andión
6/11 | CCB | Lisboa | Jorge Palma
6/11 | CCB | Lisboa | Patrícia Bastos
7/11 | Cinema São Jorge | Lisboa | Olavo Bilac
7/11 | Cinema São Jorge | Lisboa | Lura canta Cesária Évora
7/11 | CCB | Lisboa | Rodrigo Leão
8/11 | Cinema São Jorge
 | Lisboa | Couple Coffee
9/11 | CCB | Lisboa | Buika
10/11 | CCB | Lisboa | Rui Massena
11/11 | Fundação Calouste Gulbenkian | Lisboa | Kronos Quartet
14/11 | Centro Cultural Olga Cadaval | Sintra | Pierre Aderne

Da real Espanha

Até 25 de janeiro, pode visitar, no Museu Calouste Gulbenkian, de terça a domingo (10h-18h) a exposição


A História partilhada - Tesouros dos palácios reais de Espanha


terça-feira, 4 de novembro de 2014


Sabia que...#2


A estátua de Neptuno, hoje no Largo D. Estefânia, foi o ornamento escolhido pela Câmara de Lisboa em 1774 para o Chafariz das Portas de Santa Catarina (Chiado)?

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

(De Lisboa) para o mundo #2


"Gostaria que a Península (Ibérica) fosse uma república federal"


António Lobo Antunes ao Diário de Notícias de 2014.10.03

terça-feira, 28 de outubro de 2014

No metro (com Victor Bento)

Victor Bento, antigo Presidente do Banco Novo, apanhou o metro na estação dos Anjos.  
Ao longo de 40 anos como utente do Metropolitano, cruzei o olhar com a timidez de várias figuras públicas, a maioria delas, actores de teatro, escritores, jornalistas ou comentadores televisivos. Confesso, que tê-lo feito com um ex-banqueiro, num país como Portugal, causou-me, uma grande perplexidade. 
Lembro-me de ter conversado com o João de Melo (escritor) entre o Rossio e a Alameda, de ter (ousado) abordar o professor Pais Mamede (comentador da TVI para assuntos económicos) na estação de Roma, de ter fixado os meus olhos na Lia Gama, e lembro-me ainda, vezes sem conta, de entrar no metro com o Carlos Vaz Marques, jornalista da TSF e moderador do programa Governo Sombra. 
Poderia dar-vos outros tantos exemplos mas, não querendo eu, incomodar com uma lista exaustiva de pessoas, igualmente interessantes, até porque, provavelmente, o seu interesse é, apenas, opinião minha, vou, então, fixar-me, no insólito, de ter cruzado o olhar com um ex-banqueiro dentro do metropolitano na estação dos Anjos. 
A primeira pergunta que me ocorreu, prendeu-se, com o facto, de Victor Bento ter entrado na estação dos Anjos. Esta zona de Lisboa, como sabem, não é o centro da alta finança da cidade, nem sugere pontos de interesse atractivos. Pelo contrário, o guia «turístico» do bairro é pobre, com destaque para a cantina social, conhecida como a sopa dos pobres, onde várias centenas de pessoas se alimentam diariamente; a casa das irmãs oblatas, as célebres freiras que dedicam a sua vida ao acolhimento de prostitutas, pastelarias degradadas, a Igreja dos Anjos, cujo altar é um dos mais bonitos de Lisboa mas, o pátio, repleto de prostitutas, toxicodependentes e sem-abrigo, não convida os católicos não praticantes a conhecê-lo, em suma, o bairro Anjos não é de facto um território atractivo para banqueiros, sobretudo, banqueiros de instituições «boas». 
O que terá levado, então, Victor Bento a apanhar o metro na estação dos Anjos às 12.34 de uma segunda-feira? Perguntava-me, insistentemente, não retirando, assim, o olhar daquele homem, cujo fato assentava largo nos ombros, o nó da gravata caía sob a maçã de adão, usava uns sapatos de design pobre, aparentava muito cansaço, alguma tensão muscular e, confesso, pouca familiaridade com este tipo de transporte. 
Lembrei-me, no momento, em que ambos saímos na estação Baixa-Chiado que, a sede do Banco de Portugal é, justamente, nos Anjos, e que também por ali, vi algumas vezes, antigos ministros das finanças, como Manuela Ferreira Leite e Miguel Beleza. 
Sossegada a imaginação, peguei no bloco de notas e comecei a pensar em Ricardo Salgado, naquela posição, dentro da carruagem do metropolitano, entre o Intendente e o Martim-Moniz, no meio de alguns dos seus clientes, em pé, com o ar severo, de banqueiro mau, cabelo elegantemente penteado, sapatos italianos, fato de cetim, olhar distante, como só os senhores donos de tudo sabem ter.  
Mas, ou porque o oficio da escrita, em mim, não está, ainda, suficientemente trabalhado; ou, porque, ao contrário do que dizem alguns eruditos, nem toda a vida cabe na literatura, o certo, é que, Ricardo Salgado, a minha personagem, não coube na página de um pequeno bloco de notas Moleskine. 

ana paula lemos 

domingo, 26 de outubro de 2014

Gente da Terceira Classe


De 14 de outubro de 2014 a 4 de janeiro 2015


Exposição de Fotografia e Realismos


Museu da Eletricidade

Avenida Brasília, Central Tejo, Portão Poente
1300-598 Lisboa

Objetos Imediatos


"As palavras ficam sempre curtas em relação às possibilidades de um gesto. Porque o que se trata na escultura é de afirmar um gesto" - José Pedro Croft

Galeria Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
25 de outubro de 2014 – 11 de janeiro de 2015
De terça a sexa-feira, 10h -13h e 14h - 18h | sábado e domingo 14h - 18h
(encerra às segundas e feriados)

Fundação Carmona e Costa
22 de outubro – 6 de dezembro de 2014
De quarta a sábado, das 15h às 20h
(encerra aos feriados)

sábado, 25 de outubro de 2014

(Jorge Luís Borges)

Nous avions bu un ou deux verres, puis nous étions sortis sur le Terreiro do Paço, il
y avait un très beau crépuscule, le Tage était couleur de violettes, les lumières
s’allumaient en face, sur la côte de Cacilhas, nous étions allés jusqu’ à l’escalier qui
plonge dans les eaux du fleuve, et c’est là, face aux bateaux disparus du “pâle Vasco”, que nous avons achevé, assez excités l’un et l’autre, de mettre au point notre
mystification : faire littérairement confluer, se mêler, les eaux de la mer de paille à
celles du fleuve de l’argent. 

 Jorge Luís Borges

O. ROLIN, 88 Bar des Flots noirs. Paris, Seuil, 1987, p. 117-118.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Lisboa


Sem título


Partida das naus

E já no porto da ínclita Ulisseia,
Cum alvoroço nobre e cum desejo
(Onde o licor mestura e branca areia
Co salgado Neptuno o doce Tejo)
As naus prestes estão; e não refreia
Temor nenhum o juvenil despejo,
Porque a gente marítima e a de Marte
Estão pera seguir-me a toda parte.

Os Lusíadas, canto IV, estância 84


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Desassossego

“Escrevo para desassossegar, não quero leitores conformados, passivos, resignados” 

José Saramago

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Festas de aniversário para os mais novos

O Pavilhão do Conhecimento proporciona várias hipóteses para festas de aniversário:

-Troca-tintas (3-5 anos)
-Aprendiz de feiticeiro (6-9 anos)
-Faz e desfaz (10-13 anos)
-Visita livre (13 e + anos)

Pode imprimir o convite do próprio site.

Mais info AQUI






Volta ao mundo...(em Arroios)

Na freguesia de Arroios vivem 4 131 imigrantes. Pensou a Junta de Freguesia de Arroios, e muito bem, realizar um projecto, a Volta ao Mundo em Arroios, onde dá a conhecer a cultura, os costumes e a gastronomia das diferentes comunidades neste território. 
Esteja atento à programação no site da Junta www.jfarroios.pt.  


O Bairro (literário) de Gonçalo M. Tavares


segunda-feira, 20 de outubro de 2014

domingo, 19 de outubro de 2014


Reza a lenda que o corpo do mártir São Vicente viajou de barco de Sagres para Lisboa acompanhado de dois corvos. Esta ave já é rara na cidade mas tornou-se um dos seus símbolos oficiais.

Planetário Calouste Gulbenkian


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

(De Lisboa) para o mundo#1

“A herança cultural europeia não se deve limitar à preservação dos seus monumentos, mas também à preservação dos seus valores fundamentais (...) temos de ter uma discussão séria sobre esses valores fundamentais.”

Orhan Pamuk (Nobel da Literatura - Prémio Europeu Helena Vaz da Silva)


Foi Deus


quinta-feira, 16 de outubro de 2014


"A Torre de Belém, vista do exterior, é uma magnífica jóia de pedra (...) É renda da mais perfeita, no seu delicado trabalho de pedra, que branqueia ao longe, dando imediatamente nas vistas a quem vem a bordo dos barcos que entram no rio."
Fernando Pessoa

A Luz de Lisboa

A que se deve a tão célebre e cobiçada Luz de Lisboa?

a) à intensa exposição solar
b) ao rio, que reflete a luz do sol
c) ao lioz, pedra calcária que reveste muitos dos edifícios
d) ao vidraço da calçada portuguesa



DOC (Lisboa)






http://doclisboa.org/2014/

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

António #3 (história de um precário)

António parece indiferente à chuva que alagou a baixa lisboeta. Como estava, ficou. Com água pelos joelhos, fixado nas gotas grossas, caídas, olhando o Teatro, alagado de lágrimas, as suas, imaginando, o momento, como a rara possibilidade de chorar livremente. 
António, o precário, vive a sua existência sem a dignidade do ritual. Não trabalha, os amigos não o visitam, (visitá-lo, onde?), na rua, ainda não temos o hábito de visitar os amigos na rua, é bom que comecemos a adquiri-lo, pensava, de futuro, posso ter a companhia de alguns, por aqui, ao vento, talvez lhes possa valer, já estou habituado a comer com os olhos, mas, sobretudo, domino a técnica da meditação, respiro, e ainda bem, é no movimento do ar, que vivifico. Estou vivo! 
A lama trouxe a António um peixe encarnado do rio, não sabe, se o peixe saiu do Tejo ou do Douro, na Avenida, também não importa, mas tê-lo por companhia, durante uma tarde, soube a prenuncio de mudança.
Da mudança, falaremos no #4.


Ana Paula Lemos