Não sei contar os dias mas na cidade choveu.
Os dias nunca se contam, explicava-me André, porque a métrica dos dias está
sujeita ao tempo da eternidade. Quantos dias tem a eternidade, perguntou.
Subíamos os dois a calçada da Bica sem nos conhecermos. Olha-mo-nos quando a
frase chegou ao meu tempo e ouço: «quando eu morrer gostava de ir para o
Panteão».
- Mas o André sabe que não pode ir para o
Panteão…
- Porque não? Sinto-me um herói…
- Sim, mas não chega sentir-se um herói; é
preciso corresponder aos desígnios do legislador, aos atributos da lei…
- Eu correspondo! Sou um dos portugueses que
ajudou Portugal a resgatar a liberdade perdida pelo «pacto de agressão». Isto,
claro, se houver tempo, como não podemos contar os dias, pensemos no mês de
Maio.
Não fosse o Sol e nunca teria conhecido André.
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