domingo, 31 de agosto de 2014

aLLface

Hoje é o dia mundial do blogue. Parabéns, aLLface!

Lisboa - Livro de Bordo

«Logo a abrir, apareces-me pousada sobre o Tejo como uma cidade de navegar. Não me admiro: sempre que me sinto em alturas de abranger o mundo, no pico de um miradouro ou sentado numa nuvem, vejo-te em cidade-nave, barca com ruas e jardins por dentro, e até a brisa que corre me sabe a sal. Há ondas de mar aberto desenhadas nas tuas calçadas; há âncoras, há sereias. (...) Em frente é o rio que corre para os meridianos do paraíso. O tal Tejo de que falam os cronistas enlouquecidos, povoando-o de tritões a cavalo de golfinhos.»


José Cardoso Pires, Lisboa - Livro de Bordo

sábado, 30 de agosto de 2014

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa (1931)

Maresias, Lisboa e o Tejo 1850 - 2014


Uma exposição imperdível no Torreão Poente do Terreiro do Paço, de 14 de Julho a 19 de Dezembro 2014, todos os dias das 10:00 às 20:00.
Seriam muitas as razões que tornam esta exposição obrigatória para quem gosta de História, Música, Poesia e de Lisboa.
Mas, aqui ficam duas:
1. É comissariada por um dos maiores olisipógrafos de sempre: José Sarmento de Matos, historiador e ensaísta; 
2. Trata-se de um maravilhoso retrato de Lisboa, através do seu vasto património material e imaterial, construído, a partir das suas histórias, pessoas, edifícios, projectos e objectos.

Ana Paula Lemos 

Em Lisboa

      Luz Inteira, Sitiada mas Bravia: Onde Ancoras?


Gustavo Duarte

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Especial

Sempre que ele vinha a Lisboa, passeávamos muito. Eu perguntava-lhe se queria ir ao Castelo ou a algum museu e ele respondia-me sempre com três prolongados e portugueses nãos; queria vivenciar somente o que sente quem cá mora. Como o argumento do turista na sua própria cidade não o tivesse convencido, voejámos com o olhar, como se fôssemos do trabalho para casa.
-A tua cidade é especial, afirmava emocionado.
Eu sabia bem que sim, mas não sentia que devesse ser eu a enaltecer Lisboa. Então, sempre que ele apontava para algum recanto luminoso da minha cidade, eu lembrava-lhe a dele. Como era mágica Dubrovnik! 
Foi então que ele me ensinou:
-Sabes... especial quer dizer único; não quer dizer melhor.

Gustavo Duarte

Pensamento do dia

Bardarbunga é mais fácil de pronunciar do que Eyjafjallajokull.
E o que é que isto tem a ver com Lisboa? Depende dos humores do Bardarbunga...

Gustavo Duarte

desenhador do quotidiano





Diário de Viagem em Lisboa, Eduardo Salavisa

Enlacemos as mãos...


    Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
    Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
    Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.


    (Enlacemos as mãos.)
Ricardo Reis, Odes

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Aprazível - Pátio Chiado


Quando desce a Rua Garret, ao Chiado, entre a Zara e a Nike, há uma entrada, geralmente despercebida, que nos conduz a um pátio simpático e charmoso, desenhado por Siza Vieira, o Pátio Chiado, ocupado por esplanadas de três restaurantes: o Aprazível, do qual falaremos nesta entrada, o Fábulas, voltaremos a ele noutra altura, e a Pizzeria Mezzogiorno, falaremos dela, quando dedicarmos um tema às Pizzerias.

O Pátio Chiado é um oásis, mesmo quando o Chiado está em festa, sobretudo ao sábado à noite ou ao domingo à tarde. Se os alunos do Conservatório Nacional, sobretudo os violoncelistas, não estiverem a mostrar o seu talento, geralmente à entrada do Pátio, aquele lugar é silencioso e muito tranquilo. O mesmo se passa, se os alunos da Escola de Belas Artes, não aproveitarem os intervalos das aulas para debaterem as suas obras de arte, as tendências de moda, ou as «injustiças» dos professores, quando o ano escolar está a chegar ao fim.

Mas, mesmo que estejamos rodeados pela futura comunidade artística, o Pátio Chiado é sempre um lugar tranquilo, calmo e civilizado.

Está-se, bem, muito bem, em qualquer das esplanadas e, os três restaurantes, Aprazível, Fábulas e Mezzogiorno, merecem a nossa sugestão.

Hoje, porém, destaco o Aprazível, por duas razões: a primeira, é que escrevo numa tarde quente de Agosto, perto das cinco horas, e apetece-me um chá gelado. Ora, o chá Aprazível é, de facto, um belíssimo chá. A segunda razão é que para trabalhar, a esplanada do Aprazível, é a mais confortável.

À minha volta, estão várias gerações que convivem amavelmente, e eu gosto de estar em sítios, onde a pluralidade, expressa, a diversidade do humano. Não vejo o que se come do outro lado da esplanada. Mas, deste lado, há gente que experimenta os ícones da ementa Aprazível: saladas, hambúrgueres, tostas, pregos, acompanhados de todo o tipo de bebidas, alcoólicas ou não, e há uns quantos que, como eu, limitam-se a apreciar o belo chá Aprazível.

Os preços são justos, acessíveis, mesmo quando se é exigente e requintado. Não precisa de gastar mais de € 1 para passar um fim de tarde Aprazível, nem mais de € 10 para jantar numa esplanada charmosa em pleno Chiado.


Desejo-lhe, então, momentos, Aprazíveis. 

Ana Paula Lemos 

O novo Cinema Ideal



É hoje que renasce, renovado, aquele que já foi "Cine Camões", "Cinema Ideal", "Salão Ideal" e levou alguns ao "Paraíso". 110 anos depois (é um dos mais antigos do mundo), reabrem este espaço os filmes "E agora?", de Joaquim Pinto, e "A desaparecida", de John Ford.
Atenções viradas também para o mês de setembro, altura em que aqui estreará o filme "Os Maias", de João Botelho.
Lisboa está grata à Midas Filmes e à Casa da Imprensa (proprietária do edifício).

Gustavo Duarte

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Frederico BC


Saiba mais no site

Praça do Império

 A propósito da polémica sobre a (não)manutenção dos brasões das ex-colónias, reproduzidos em mosaico-cultura (relva, flores e outra flora) na Praça do Império, e que estão ao abandono há algum tempo, deixo uma sugestão:



que tal manterem-se os brasões, que fazem parte da História portuguesa, acrescentando um tributo aos novos países? por exemplo, reproduzindo as suas atuais bandeiras. Assim, memória e respeito pela independência convivem lado a lado. E sem pretensões coloniais, apesar de ainda estarmos na "Praça do Império".






Gustavo Duarte

Veganorato

Nesta moda dos hambúrgueres, quem não come carne tem de andar à caça das hamburguerias com opções vegetarianas. O "Honorato" só arranjou uma mas saiu-se bem. A juntar às ótimas batatas fritas caseiras (tirando o facto de eu continuar a embirrar com os molhos de alho que deixam aquele saborzinho na boca durante dois dias), o hambúrguer de soja, apesar de frito, não tem falta de sabor. O queijo brie parecia abrilhantar o prato mas acaba por não fazer grande falta.
Os mojitos também se recomendam mas o que ganha pontos no Honorato do Parque das Nações é a esplanada. Muitos lugares e uma vista simpática: uma excelente opção aos sábados e vésperas de feriado, com direito a dj, até às 2 da manhã.

Gustavo Duarte

Críquete no Martim Moniz


Há três anos, eram poucos, aqueles que se reuniam no Martim Moniz, ao fim da tarde, para jogar Críquete. Foram crescendo, em número e em idade, e hoje, são algumas dezenas, os rapazes que marcam encontro entre as 17 e as 20.00, no lado Sul do Largo, para o treino diário ou semanal.

Sempre que vou abraçar o mundo ao Martim Moniz, sento-me a observá-los. Geralmente, na bancada, sou a única mulher. Os meus companheiros, também eles, homens, conhecidos, amigos ou familiares dos praticantes, têm a delicadeza de se afastar para me deixarem sentar entre eles. Conversamos muito pouco. Percebo que a minha presença não os deixa soltos. Às vezes, meto conversa mas a timidez de uns e, a concentração no jogo, de outros, não permite grandes diálogos. Ontem perguntei de que nacionalidade eram os jogadores. Ao que responderam prontamente: indianos, paquistaneses e cingaleses.

Não conheço, uma única regra do Críquete, por isso, não entendo o esforço daqueles rapazes na concretização do movimento perfeito. Sei, no entanto, que tudo ali, no Martim Moniz, é adverso à prática do jogo. O campo é de cimento, a bola é a do Ténis, as pessoas passam, às centenas, agora de Verão, mas a verdade é que nada os desmotiva.

Ao fim da tarde, a luz de Lisboa é amarela e o Martim Moniz cheira a caril. Ainda não percebi se aqui venho, porque tenho saudades da Índia ou, se com a idade, Moçambique, a terra onde nasci, é cada vez mais o céu onde encontro os meus pais.

Ou, se de facto, venho ao Martim Moniz, só porque gosto, e gosto muito, de viver em Lisboa. 

Ana Paula Lemos 

Da árvore, numa rua de Lisboa

Esta árvore só, insana,
chamou a si todos os pássaros
da rua. E aceita, assim,
mil olhos que, no crepúsculo
da tarde, se fecham,
mil olhos, abertos
no crepúsculo da manhã.
Av. da República, 1996
Fiama Hasse de Pais Brandão
in As fábulas

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Cais das Colunas


Saudade

João Pedro,

Tenho saudades tuas. Escrevo-te, por isso, à procura de nós. Quando te quero abraçar, apanho o autocarro 735 e, quase a chegar à Avenida, levanto os olhos sobre o avião que passa rente, aconchego a cabeça junto ao vidro, salto para as rodas e, no ar, grito-te Saudade.

Tenho a certeza, que deste modo, nos vamos encontrar nas silabadas Sau-da-de. Imagino-te com saúde, dando-te, e, assim, fico no ar, agarrada à palavra, ao céu de Lisboa, que tanto gostas, pensando que voltarás, sempre, mas sobretudo, quando Lisboa dorme, junto ao Terreiro, agora belo e luminoso, ancorado no cacilheiro da Joana, decorado de azulejos pombalinos, que me lembram o terramoto que deixaste, naquele dia, inscrito nas nuvens de Lisboa, quando dizias, vou para Macau.

E foste. E eu fiquei a tricotar, na Retrosaria da Rosa, no Loreto, as linhas da saudade, de ti, de nós, de Lisboa.

Lisboa, diz o mundo, não sei se as vozes te chegam, mas o mundo diz, cidade mágica, exactamente a nossa, quando me deste a flor num dia triste, ou caminhamos pelos jardins da Gulbenkian, contando as rosas, porque tudo na Fundação é novo, agora há tartarugas, olho para elas, lentas como a saudade, de nós, de Lisboa.



Espero-te nas silabadas com que dizemos a nossa cidade, saudade, agora descoberta, eleita, no manto diáfano da epopeia, envolta na magia, com que nós a abraçamos tocando a luz do Castelo e ali ficamos olhando as ruínas do Carmo e o Chiado.

Ana Paula Lemos 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Parques com saúde


Parecem não ir dar a lado algum mas a verdade é que estes degraus simbolizam a subida à boa forma e ao bem-estar. Ficam no Parque Bensaúde, ali entre as Laranjeiras e o Alto dos Moinhos. À semelhança de muitos outros parques que oxigenam a cidade, também este constitui uma oportunidade gratuita de fazer exercício, piqueniques ou simplesmente descansar. E não se deixem enganar pelos degraus toscos: o Parque Bensaúde tem circuito de manutenção, uma esplanada e várias hortas urbanas.

Gustavo Duarte

Cores de Lisboa

Quem não passou já por umas dessas mercearias que estendem as suas cores pela calçada? Não é só de alfaces que se faz Lisboa e não é difícil encontrar qualidade e preços competitivos em relação aos grandes...

Gustavo Duarte

O Chiado de hoje

Foi a 25 de agosto de 1988. Eu estava de férias e tinha ficado a dormir em casa da minha tia. Planeáramos ir à Baixa, às compras. De manhã cedo ligou lá para casa a minha avó: que já não fôssemos, que havia um grande incêndio na zona. Tinha seis anos e não me lembro de muito mais. Sei que hoje o Chiado está na moda. E é só isso que importa agora.

Gustavo Duarte

domingo, 24 de agosto de 2014

O estilo dos bairros (1) - Intendente e Mouraria

Em Lisboa, torna-se, cada vez mais difícil, tipificar a sociologia das tendências, por bairro. 
Há uns anos atrás, havia os «betinhos» da Avenida de Roma, os «góticos» do Bairro Alto ou os «metrossexuais» do Chiado. 
Hoje, a moda é uma atitude, e por isso, a pluralidade está em cada bairro e cada bairro é, cada vez mais, multi-cultural. 

 
Mesmo, assim, ouso tentar o exercício das tendências dos bairros lisboetas...Começo pelo Intendente e Mouraria. 












Ana Paula Lemos

Urban Sketchers

Eles desenham in situ, registando directamente o que observam. Com os seus desenhos contam-nos a história que nos rodeia, os lugares onde vivemos e as viagens que fazemos. Eles são fiéis ao que observam, publicam um desenho de cada vez, usam qualquer tipo de técnica e partilham os seus desenhos online. 
Chamam-se Urban Sketchers: um colectivo de autores portugueses que desenham em diários gráficos a cidade onde vivem. A Rosário é uma das Urban Sketchers que desenha Lisboa. 





Ana Paula Lemos

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Rua do Loreto

Procurava a Retrosaria de Rosa Pomar na Rua do Loreto. Íamos conversar sobre Tricot...Marcámos às 10:00 e eu, como sempre, tinha os meus minutos de avanço relativamente à hora marcada. Gosto de passear no Chiado pela manhã. No Verão, a humidade da noite, vinda do rio, deixa o ar mais leve, mais branco. Não sabia ao certo onde era a Retrosaria. Consultei o site, retrosaria.rosapomar.com,  e fiquei com uma ideia vaga, que julgamos suficiente, quando nos convencemos conhecer bem o lugar. As coordenadas eram a Rua da Emenda, o Largo do Calhariz e a Calçada do Combro. Claro que conhecia. E aí vou eu...enganada pelas minhas certezas. Sabia, sim, que a Rua começava junto à Praça Camões. O que não sabia é que a Rua do Loreto termina mesmo ali, a menos de 100 metros, onde começa o Calhariz, que por sua vez termina, a menos de 50 metros da Calçada do Combro.
O tempo de avanço convertera-se num pesadelo de atraso. Detesto chegar atrasada, mesmo que vá ao encontro do meu melhor amigo.Quando dei por mim estava já a meio da Calçada do Combro a menos de 300 metros da Assembleia da República.
Foi, então, que me lembrei o que disse a jornalista da CNN, Fiona Dunlop, quando visitou Lisboa e a considerou a cidade mais cool da Europa: «as ruas de Lisboa são fascinantes».


Ana Paula Lemos

terça-feira, 19 de agosto de 2014

A Lisboa de Gabriel Garcia Marques

Lisboa, 1975

«Lisboa é uma das mais belas cidades do mundo e, até há um ano, era também uma das mais tristes, por obra de uma rara ditadura medieval que durou quase meio século e cuja força se fundava numa polícia política inclemente. É um país de pobres que enfrenta obstáculos terríveis e uma pressão tremenda. Por causa da sua posição geográfica, está obrigado a sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos e sofisticados do mundo.»


Gabriel Garcia Marques

Kirill Neiezhmakov

Sobre Lisboa e Sesimbra, um vídeo que está na moda, de Kirill Neiezhmakov.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pastel de Nata

Transformado numa marca portuguesa, o Pastel de Nata, esse saboroso doce lisboeta, nasceu da luta pela sobreviência da comunidade monástica do Mosteiro dos Jerónimos em Belém, numa altura, em que o poder político extinguia o que restava das Ordens Monásticas pompalinas. 
Decorria o ano de 1834, o Mosteiro fora encerrado, na sequência das guerras liberias, a questão da sobrevivência não apenas dos monges mas, de todos aqueles que viviam na dependência do Mosteiro, colocara-se, então, radicalmente.
Eis, senão quando, num acto criador de sobrevivência, um monje inventa o pastel, e aproveitando a existência da refinaria de açucar, na altura, mesmo ao lado do Mosteiro dos Jerónimos, coloca à venda, naquela Fábrica, o Pastel de Nata.
Desde então, a refinaria transformou-se na Fábrica Pasteis de Belém, e o segredo monástico por lá se mantêm até à actualidade.
Sabemos que os pasteleiros de Belém juram, desde então, fidelidade sacramental à receita conventual. Por isso, quando quiser comer um pastel de natal, o mais próximo possível do génio criador monástico, segundo a tradição, vá a Belém, à Fábrica, e experimente.
Está a saborear um dos maiores íncones da cultura gastronómica portuguesa. 
Bom proveito!

Ana Paula Lemos

sábado, 16 de agosto de 2014

"Meu caro Costa:

Praça Marquês de Pombal (data desconhecida)
Estimo que este postal te vá encontrar de saúde e que o teu abatimento moral já tenha passado, que isto cá vai na mesma ou talvez pior.
Foi com muita satisfação que recebi o teu postal, mas já desesperava, porque o carteiro enganou-se e entregou noutra morada e só ao fim de três dias é que mo entregaram. 
Com respeito ao Zé Mouco, ele disse-me que de facto respondeu a um anúncio e que eles o mandaram embarcar o mais rapidamente possível com a famelga toda... (continua)"

Lisboa antes do terramoto

Exibido no Museu Nacional de Arte Antiga, veja o vídeo ilustrativo da Lisboa pré-terramoto aqui.

O metropolitano de Lisboa

Corria o ano de 1959 e estava prestes a ser inaugurado o metropolitano de Lisboa. Para que tudo corresse bem, e muito ao estilo do Estado Novo, informava-se a população através da televisão. Veja o vídeo aqui.

Lisboa inteligente

Boas notícias! Segundo o estudo "Smart Cities", da consultora "Indra", Lisboa é uma das cidades mais inteligentes do mundo. Leia a notícia do "Jornal de Negócios" aqui.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Morais Soares

É uma rua estreita, por ser assim, estreita, não parece tão bela, mas talvez seja uma das mais belas ruas de Lisboa. Já foi uma artéria comercial famosa. A classe média dos anos oitenta gastava os poucos escudos que sobravam do excel familiar nos estabelecimentos comerciais da Morais Soares. Era chique frequentar o comércio desta artéria de Lisboa. Contam-nos que a Morais Soares era o único Centro Comercial de massas, a céu aberto, que existia em Lisboa. A Baixa Pombalina, essa, era frequentada pelos mais abastados.
Tudo se vendia na Morais Soares: jornais, livros, discos, electrodomésticos, roupas de vestir e de casa, produtos alimentares, carne, peixe, de entre muitos outros, tipicos das classes média e média - baixa.
Nos anos oitenta, o FMI resgatou a economia portuguesa do socialismo democrático, o qual, Mário Soares arrumou com orgulho na gaveta,  explicando aos portugueses que não se podia viver indefinidamente o processo revolucionário em curso. Por isso, as pessoas viviam, igualmente, uma situação económica dificil, apesar de nos quererem convencer que a crise de 2014 é infinitamente mais grave.
A crise até pode ser mais grave. Mas, nos anos oitenta, Portugal não tinha os fundos de coesão a inundar a economia pública e privada, nem as Misericórdias substituiam as familias e o Estado, aliás, o processo revolucionário em curso, destruíra-as, por estarem ligadas ao ópio do povo, entenda-se, à Igreja, e, em Portugal, também não existiam, ainda, as IPSSs que, como sabem, muito terão contribuído, em 2014, para aliviar a fome de mais de um milhão de portugueses. 
Naquela altura, nos anos oitenta, viviam na Morais Soares e na Penha de França, os funcionários públicos dos Ministérios das Finanças, Justiça e outros, que durante os anos cinquenta, sessenta e setenta, constituíam o tecido pequeno burguês da cidade. Haviam imigrado das Beiras, e no Estado providência, encontraram o sustento, para as parcas qualificações académicas oferecidas pela família rural de origem.
Estes funcionários públicos alimentavam a economia local.  Hoje, a maioria desta população tem mais de oitenta anos, ou já morreu, o que torna a Morais Soares uma rua cheia de velhos, pobres, ou fantasmas. 
O comércio desapareceu em pouco mais de uma década. A Morais Soares é, hoje, uma imensa esplanada, cheia de cafés sucessivos, competindo, com o preço mais baixo possível. A Padaria Portuguesa vende a bica a 0,39 cêntimos. 
Os bancos são, outro, dos grandes ocupantes da rua. De noite, não fosse o seu design de comunicação, e a Morais Soares virava a noite escura da cidade. 
A comunidade brasileira, paquistanesa, ucraniana ou indiana, não deixaram desaparecer a Morais Soares da toponimia lisboeta. Os pobres também não! As frutarias e as lojas são de chineses. Os paquistaneses abrem comércio com produtos a € 1. Desde pastas de dentes Colgate a Coca-Cola, passando por produtos de limpeza ou chocolates...tudo a um euro. Apenas a € 1. 
É isto que dá vida à rua. Vêm os portugueses de vários outros bairros de Lisboa procurar o comércio Low Cost. 
Um pouco mais acima, já na Penha de França, chegam os netos dos funcionários públicos para ocuparem as casas do Cofre, essa entidade corporativa da Administração Pública, que muito contribuiu para o povoamento de Lisboa. Os netos, esses, são artistas, profissionais liberiais, precários. São pobres!!! 
Vamos ver se os netos vencerão. Os seus avós, muitos deles tão pobres como os seus netos, quando tinham a mesma idade, conseguiram criar outro projecto de vida diferente do seu universo rural. Será a primeira vez na História de Lisboa que uma geração não consegue melhorar o padrão de vida herdado. Há sempre uma primeira vez. Mas, assim, não se faz a História. 

Ana Paula Lemos

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Sophia de Mello Breyner

Digo:
“Lisboa”
Quando atravesso – vinda do sul – o rio
E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse
Abre-se e ergue-se em sua extensão noturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas – 
Vejo-a melhor porque a digo
Tudo se mostra melhor porque digo
Tudo mostra melhor o seu estar e a sua carência
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e de não-ser
Com seus meandros de espanto insónia e lata
E seu secreto rebrilhar de coisa de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construida ao longo da sua própria ausência
Digo o nome da cidade
- Digo para ver

Martim Moniz

Quando quero abraçar o mundo vou ao Martim Moniz...é lá que está o cheiro da Índia, a humidade de Pequim, e tudo o resto que gosto no mundo...

Ana Paula Lemos

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

(Des) Fado


Lisboa



Rua da Betesga

Gosto de olhar o Castelo desta minúscula rua. Visto daqui, sim, quase ocupo a rua inteira, o Castelo é amarelo mas, o céu, continua azul. Pela manhã o Castelo não tem cor. E eu gosto do Castelo engalanado daquela cor amarela de fim de tarde.

Ana Paula Lemos

domingo, 10 de agosto de 2014

Lisboa Story Center

Quando entrei de férias, resolvi ser turista na nossa Alface. Andei à procura de atividades e locais que ainda não conhecesse e resolvi visitar o "Lisboa Story Center - Memórias da Cidade". Apanhei a linha azul do metro e saí no Terreiro do Paço, mesmo ao lado da entrada. Por 5 euros (preço de estudante; o bilhete normal é de 7 euros, o que também não acho caro para o que é; há várias opções para grupos e famílias), percorremos vários cenários, sempre de guia no ouvido (cada vez que pisava um novo cenário, a faixa mudava automaticamente). Demorou cerca de 1h a passar dos tempos pré-conquista ao 25 de abril. Pelo meio, vídeos, fotografias, instalações, algumas datas que ficam no ouvido e uns quantos mapas na memória, além da gaiola pombalina, de perfumes de especiarias e de sentirmos o chão a tremer em 1755. Já estou a ouvir alguns dizerem que faltam muitas coisas. Pois claro que sim, talvez sempre fique a faltar alguma coisa, mas pareceu-me divertido e cultural sem deixar de ser rigoroso. Adorei a "Passarola" do Padre Bartolomeu de Gusmão, um pioneiro mundial nestas coisas de brincar aos piu-pius.
O horário estende-se das 10 da manhã às 7 da tarde e ainda podemos optar por incluir, por mais umas moedas, a magnífica vista do topo do arco da rua Augusta (prometo umas fotografias em breve). Dá perfeitamente para levar a família, miúdos incluídos (sugiro a partir do 3.º ano), porque é muito interativo e está disponível uma versão infantil do audio-guia.
E agora fiquei com vontade de explorar algumas datas e figuras que marcaram Lisboa. Num dos próximos posts, sou capaz de trazer ao aLLface alguns nomes, como o de Carlos Mardel, um húngaro importante na arquitetura da cidade, sobretudo no pós-terramoto. Stay tuned...

Mais info aqui

Réplica da "Passarola", criada em 1709 pelo Padre Bartolomeu de Gusmão, um dos pioneiros da aeronáutica mundial

Lisboa Story Center is an interactive 60-minute journey, perfectly affordable and dedicated to the history of the city. It´s located in Terreiro do Paço (subway: blue line) and can be a great introduction for your holidays in the city, whether alone or with your family. You can also choose to include in your pack Rua Augusta Arch (with a magnificent view over the square and the river!).
Timetable: 10am-7pm
Audio-guides available in Portuguese, English, Spanish, French, Italian, German, Russian, Mandarin and Japanese.

More info here
Gustavo Duarte

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Voltar ao Liu

Voltei hoje ao meu restaurante chinês de sempre. Fica no Campo Grande, ao lado do hotel Radisson e chama-se “Hao Hua”, embora eu o conheça por “Liu”. Há muitos anos que lá não ia, talvez desde que atravessava a estrada a partir da casa cor-de-rosa do outro lado da segunda circular, no intervalo grande, e ia com os meus amigos das Doroteias almoçar ao restaurante chinês. Nessa altura, não éramos muito exigentes: os famosos crepes, o arroz chao-chao (que eu substituía por arroz branco, dada a minha embirração com ovos) e os chop-sueys ou a galinha com amêndoas. Pato não era prato para mesadas, ficava para quando se ia lá com a família. Morávamos ali ao lado, no chamado Parque Europa (cada edifício tem um nome de uma cidade portuária europeia), acima da Quinta do Lambert. E quando a minha irmã mais nova nasceu, começou também a ser por lá conhecida, sobretudo devido aos seus acentuados olhos em bico, comuns na linhagem paterna. “É bebé chinês?”, perguntava Liu, o dono. 
Passaram-se muitos anos, deixámos o colégio e o bairro, comecei a pôr de lado a carne (noutro dia falo-vos disso) e o bebé chinês já vai para o 10º ano, o mesmo em que eu devo ter começado a frequentar o restaurante, que, aliás, continua igual. A grande sala, que parece difícil de encher mas está sempre composta, a música ambiente de embalar, a rapidez do serviço e a boa relação preço-qualidade (que profissional que isto agora ficou!). Diz-se que os restaurantes chineses não servem a verdadeira comida da China (parece que há pela cidade um ou outro onde de facto se vêem chineses a comer – qualquer dia vou pesquisar e conto-vos como foi). Não faço ideia mas desconfio que assim seja. A verdade é que, mesmo depois de passada a moda (ouvi dizer que as inspeções alimentares em muito contribuíram para o fecho de vários restaurantes), perdida sobretudo para as tendências nipónicas (com que muitos chineses já se fundiram), soube-me bem voltar ao Liu; mesmo com o acréscimo de dois televisores ligados na novela e alguns calendários de 2012 na parede; e mesmo sem Liu, que, segundo me disseram, apesar de continuar dono do “Hao Hua”, está agora para os lados de Sintra, em mais um negócio da China.

Gustavo Duarte

Tem um minutinho?

Quem anda pela Alface, sobretudo a pé, depara-se cada vez mais com peditórios para ações de solidariedade social. E se se torna difícil, nestes tempos, contribuir com dinheiro, há outras coisas para dar e receber. Desta vez, foi um rapaz nos seus vintes que me abordou. Não o deixei terminar os cumprimentos e adiantei logo que, caso fosse para pedir dinheiro, não contasse comigo. “Nem para uma causa tão nobre?”. Tendo em conta que já era a terceira causa nobre naquela semana, não! Mas as compras que esperassem, por que não saber que causa era? Às vezes, podemos parar um minuto nos nossos dias atarefados e olhar para quem ali está. Ah mas talvez sejam vigaristas; talvez o dinheiro nunca chegue ao destino. Talvez. Mas há pessoas que estão ali. Estão. Está calor; chove; têm vinte anos ou sessenta. E estão ali. Merecem o meu sorriso. Posso perguntar se têm site, se posso ajudar de outras formas. Ou então, como aconteceu desta vez, simplesmente tocar no ombro do rapaz, agradecer-lhe por estar ali e sorrir-lhe de volta. “Bom trabalho! Boa sorte!”. E para o dinheiro que faltou, sobraram afetos e o dia seguiu mais luminoso. Obrigado. 

Gustavo Duarte

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O Sr. Fernando

Mudar de casa, mesmo que dentro da nossa Alface, obriga a muitas correrias e cansaços. Mas é também altura para rever papéis, deitar tralhas fora, recuperar relíquias há muito perdidas para os esconderijos do soalho. E já agora, como manda o Feng Shui, reparar tudo o que está partido, avariado, sem funcionar para a função a que se destina. Nesse estado estava uma cadeira antiga, que passou do meu pai para mim: as costas e o assento eram duas almofadas cujo forro se descosera. Há meses que esperavam a minha dedicação. E o meu bolso.
Recorri ao OLX, onde tenho feito pequenos grandes negócios, sobretudo em relação a serviços: virem a nossa casa dar um orçamento (como aconteceu com a minha máquina de lavar loiça) sem ficarmos obrigado a pagar de imediato os infortúnios da deslocação+iva é um bálsamo que o Feng Shui deveria estudar. E foi por lá que descobri o contacto do Sr. Fernando.
Quando com ele me encontrei, numa tarde em que o vento soprava um verão incerto, ali junto ao Centro Comercial do Lumiar, o Sr. Fernando não tinha como transportar as almofadas. Tivera um acidente há sete anos, na sua carrinha Ford Transit, contra uma estrutura metálica muito perigosa que havia ali numa rotunda da Póvoa de Santo Adrião. Parece que só quando lá morreu uma pessoa, já depois do seu caso, é que resolveram retirá-la. E é por isso que o Sr. Fernando anda de bicicleta por toda a cidade. Dei-lhe então boleia para a oficina e de volta para onde deixara as duas rodas. Pelos atalhos tortuosos da Ameixoeira, o Sr. Fernando tinha muita estórias para contar; e eu, embora não quisesse, tinha de ir brandamente interrompendo para me certificar dos atalhos. “No outro dia fui até Alfragide dar um orçamento”. “De bicicleta, Sr. Fernando?”. De bicicleta. 
Ao chegarmos a uma rua sem saída, alguns cães vagueavam, pachorrentos, junto ao lixo que se espalhava na rua. Crianças de férias brincavam no meio das ervas daninhas. Já tivera uma oficina, agora trabalhava na garagem de casa. O volume de trabalho e as despesas não justificavam outra opção, agora que já passava dos sessenta. Também estofava tejadilhos de carros. Estivesse ali um que na semana anterior arranjara e eu logo o comprovaria! “Pois sim, Sr. Fernando, bem sei, que o meu avô foi estofador e é um trabalho de arte. Agora não há é massas!”. E o sr. Fernando baixou-me o preço do conserto. E por acaso não conhecia ninguém que arranjasse máquinas de lavar? Claro que sim, e barato, e de confiança. “Digo que é para um amigo meu”.
De volta ao Lumiar, e antes de chegarmos ao sítio onde o apanhara, insistiu que o deixasse num semáforo atrás, assim eu cortaria caminho e ele daria mais uma corridinha. Não fazia mal, não tinha mais nada que fazer a não ser ir trocar o telemóvel que comprara dias antes. “Eu oiço muito bem toda a gente, as pessoas do outro lado é que me ouvem mal”. Felizmente, o Sr. Fernando, sempre que compra um telemóvel, faz um seguro; e diz que tem tido sorte!

Lá seguiu o Sr. Fernando, em passo de corrida, de mochila às costas e calças à pirata, rumo a mais um afazer do seu dia na Grande Alface.

Gustavo Duarte