“Este livro foi
um ajuste de contas comigo mesmo para com uma cidade que eu me fartei de ver, e
vejo sempre interpretada de uma maneira um bocado convencional e que eu vejo de
uma maneira muito diferente.(...) É uma Lisboa que tenho na memória.(…)Neste livro quis fazer outra coisa: uma espécie de levantamento que desse, com toda a
sinceridade, o modo como sinto Lisboa. E é aí que o livro me parece muito
diferente da Lisboa convencional do Tejo que é bonito, etc. Há ainda muitas
coisas que faltam e que espero trabalhar numa próxima edição: a sintaxe
lisboeta. Está abordada, mas não aprofundada. E os cheiros... (…)Quis uma
coisa leve, não exaustiva. Chamar a atenção para o lado artístico de Lisboa e
para o humor de Lisboa. Um tipo só gosta de uma cidade - e é isso que eu
pretendia que se sentisse neste meu livro- quando é cúmplice dela. Interrogar a
cidade é fácil, isso qualquer turista faz. Mas um tipo só está a viver numa
cidade quando se sente interrogado por ela: "O que é que tu tens a ver
comigo?", "Porque é que tu estás aqui?", "Como é que tu te
adaptas?", "Porque é que tu não te entendes?" Paris, por
exemplo, não me interroga, despreza-me. Enquanto que nas cidades de que gosto
(Londres, Rio de Janeiro, Barcelona, Praga), sinto-me interrogado. Em toda a
parte há bocados de mim.”
José Cardoso Pires
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