terça-feira, 25 de novembro de 2014

De Ofélia (para Fernando Pessoa)

«Meu Nininho adorado:

Recebi a tua grande cartinha que me causou surpresa e por isso alegria pois que
não esperava, quando cheguei a casa é que minha mãe ma deu. Eu [,] meu Fernandinho além de não estar nada boa não foi esse o motivo por que não estive no nosso ponto de encontro à hora marcada, tive que sair com minha irmã e não estava despachada à hora precisa para te encontrar, sabes a que horas fomos almoçar? (ou por outra viemos almoçar porque almoçámos em minha casa) eram duas e tal. Já vês meu lindo amor que era impossível encontrar-te… Vejo que ficaste ralado e em cuidados o que me satisfez imenso, não é pelo facto de gostar que te rales e apoquentes, não [,] amor [,] é por ver que te interessas bastante pelo teu bebezinho [;] e nunca te arrependas meu amorzinho porque eu mereço bem os teus interesses por mim porque te estimo tanto quanto é possível estimar um homem (um Nininho). Mas não fazes ideia Fernandinho as saudades imensas que de ti tenho tido e tenho! Supõe por ti, amor, tenho estado hoje verdadeiramente doente, triste por te não ver, e ralada com coisas que soube, enfim o que se resume de tudo isto é que eu não tenho o direito de andar bem disposta, não mereço gozar felicidade alguma! Serei tão má para que mereça tanto? Hei-de ter sempre de que me ralar, mas sempre. Ao menos resta-me a esperança em ti, em ser feliz contigo, e ter alegria no futuro.
Escreveste tão poucochinho! Podias ter escrito mais [,] meu amor!»

Ofélia 

08.04.1920

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