terça-feira, 26 de agosto de 2014

Saudade

João Pedro,

Tenho saudades tuas. Escrevo-te, por isso, à procura de nós. Quando te quero abraçar, apanho o autocarro 735 e, quase a chegar à Avenida, levanto os olhos sobre o avião que passa rente, aconchego a cabeça junto ao vidro, salto para as rodas e, no ar, grito-te Saudade.

Tenho a certeza, que deste modo, nos vamos encontrar nas silabadas Sau-da-de. Imagino-te com saúde, dando-te, e, assim, fico no ar, agarrada à palavra, ao céu de Lisboa, que tanto gostas, pensando que voltarás, sempre, mas sobretudo, quando Lisboa dorme, junto ao Terreiro, agora belo e luminoso, ancorado no cacilheiro da Joana, decorado de azulejos pombalinos, que me lembram o terramoto que deixaste, naquele dia, inscrito nas nuvens de Lisboa, quando dizias, vou para Macau.

E foste. E eu fiquei a tricotar, na Retrosaria da Rosa, no Loreto, as linhas da saudade, de ti, de nós, de Lisboa.

Lisboa, diz o mundo, não sei se as vozes te chegam, mas o mundo diz, cidade mágica, exactamente a nossa, quando me deste a flor num dia triste, ou caminhamos pelos jardins da Gulbenkian, contando as rosas, porque tudo na Fundação é novo, agora há tartarugas, olho para elas, lentas como a saudade, de nós, de Lisboa.



Espero-te nas silabadas com que dizemos a nossa cidade, saudade, agora descoberta, eleita, no manto diáfano da epopeia, envolta na magia, com que nós a abraçamos tocando a luz do Castelo e ali ficamos olhando as ruínas do Carmo e o Chiado.

Ana Paula Lemos 

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