João Pedro,
Tenho saudades tuas. Escrevo-te, por isso, à procura de nós.
Quando te quero abraçar, apanho o autocarro 735 e, quase a chegar à Avenida,
levanto os olhos sobre o avião que passa rente, aconchego a cabeça junto ao
vidro, salto para as rodas e, no ar, grito-te Saudade.
Tenho a certeza, que deste modo, nos vamos encontrar nas
silabadas Sau-da-de. Imagino-te com
saúde, dando-te, e, assim, fico no ar, agarrada à palavra, ao céu de Lisboa,
que tanto gostas, pensando que voltarás, sempre, mas sobretudo, quando Lisboa
dorme, junto ao Terreiro, agora belo e luminoso, ancorado no cacilheiro da
Joana, decorado de azulejos pombalinos, que me lembram o terramoto que
deixaste, naquele dia, inscrito nas nuvens de Lisboa, quando dizias, vou para
Macau.
E foste. E eu fiquei a tricotar, na Retrosaria da Rosa, no
Loreto, as linhas da saudade, de ti, de nós, de Lisboa.
Lisboa, diz o mundo, não sei se as vozes te chegam, mas o
mundo diz, cidade mágica, exactamente a nossa, quando me deste a flor num dia triste,
ou caminhamos pelos jardins da Gulbenkian, contando as rosas, porque tudo na
Fundação é novo, agora há tartarugas, olho para elas, lentas como a saudade, de
nós, de Lisboa.
Espero-te nas silabadas com que dizemos a nossa cidade, saudade,
agora descoberta, eleita, no manto diáfano da epopeia, envolta na magia, com
que nós a abraçamos tocando a luz do Castelo e ali ficamos olhando as ruínas do
Carmo e o Chiado.
Ana Paula Lemos
Ana Paula Lemos
Sem comentários:
Enviar um comentário