quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Críquete no Martim Moniz


Há três anos, eram poucos, aqueles que se reuniam no Martim Moniz, ao fim da tarde, para jogar Críquete. Foram crescendo, em número e em idade, e hoje, são algumas dezenas, os rapazes que marcam encontro entre as 17 e as 20.00, no lado Sul do Largo, para o treino diário ou semanal.

Sempre que vou abraçar o mundo ao Martim Moniz, sento-me a observá-los. Geralmente, na bancada, sou a única mulher. Os meus companheiros, também eles, homens, conhecidos, amigos ou familiares dos praticantes, têm a delicadeza de se afastar para me deixarem sentar entre eles. Conversamos muito pouco. Percebo que a minha presença não os deixa soltos. Às vezes, meto conversa mas a timidez de uns e, a concentração no jogo, de outros, não permite grandes diálogos. Ontem perguntei de que nacionalidade eram os jogadores. Ao que responderam prontamente: indianos, paquistaneses e cingaleses.

Não conheço, uma única regra do Críquete, por isso, não entendo o esforço daqueles rapazes na concretização do movimento perfeito. Sei, no entanto, que tudo ali, no Martim Moniz, é adverso à prática do jogo. O campo é de cimento, a bola é a do Ténis, as pessoas passam, às centenas, agora de Verão, mas a verdade é que nada os desmotiva.

Ao fim da tarde, a luz de Lisboa é amarela e o Martim Moniz cheira a caril. Ainda não percebi se aqui venho, porque tenho saudades da Índia ou, se com a idade, Moçambique, a terra onde nasci, é cada vez mais o céu onde encontro os meus pais.

Ou, se de facto, venho ao Martim Moniz, só porque gosto, e gosto muito, de viver em Lisboa. 

Ana Paula Lemos 

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