Há três anos, eram
poucos, aqueles que se reuniam no Martim Moniz, ao fim da tarde, para jogar Críquete.
Foram crescendo, em número e em idade, e hoje, são algumas dezenas, os rapazes
que marcam encontro entre as 17 e as 20.00, no lado Sul do Largo, para o treino
diário ou semanal.
Sempre que vou
abraçar o mundo ao Martim Moniz, sento-me a observá-los. Geralmente, na
bancada, sou a única mulher. Os meus companheiros, também eles, homens,
conhecidos, amigos ou familiares dos praticantes, têm a delicadeza de se
afastar para me deixarem sentar entre eles. Conversamos muito pouco. Percebo
que a minha presença não os deixa soltos. Às vezes, meto conversa mas a timidez
de uns e, a concentração no jogo, de outros, não permite grandes diálogos.
Ontem perguntei de que nacionalidade eram os jogadores. Ao que responderam
prontamente: indianos, paquistaneses e cingaleses.
Não conheço, uma única
regra do Críquete, por isso, não entendo o esforço daqueles rapazes na
concretização do movimento perfeito. Sei, no entanto, que tudo ali, no Martim
Moniz, é adverso à prática do jogo. O campo é de cimento, a bola é a do
Ténis, as pessoas passam, às centenas, agora de Verão, mas a verdade é que nada
os desmotiva.
Ao fim da tarde, a
luz de Lisboa é amarela e o Martim Moniz cheira a caril. Ainda não percebi se
aqui venho, porque tenho saudades da Índia ou, se com a idade, Moçambique, a
terra onde nasci, é cada vez mais o céu
onde encontro os meus pais.
Ou, se de facto,
venho ao Martim Moniz, só porque gosto, e gosto muito, de viver em Lisboa.
Ana Paula Lemos
Ana Paula Lemos
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