sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Voltar ao Liu

Voltei hoje ao meu restaurante chinês de sempre. Fica no Campo Grande, ao lado do hotel Radisson e chama-se “Hao Hua”, embora eu o conheça por “Liu”. Há muitos anos que lá não ia, talvez desde que atravessava a estrada a partir da casa cor-de-rosa do outro lado da segunda circular, no intervalo grande, e ia com os meus amigos das Doroteias almoçar ao restaurante chinês. Nessa altura, não éramos muito exigentes: os famosos crepes, o arroz chao-chao (que eu substituía por arroz branco, dada a minha embirração com ovos) e os chop-sueys ou a galinha com amêndoas. Pato não era prato para mesadas, ficava para quando se ia lá com a família. Morávamos ali ao lado, no chamado Parque Europa (cada edifício tem um nome de uma cidade portuária europeia), acima da Quinta do Lambert. E quando a minha irmã mais nova nasceu, começou também a ser por lá conhecida, sobretudo devido aos seus acentuados olhos em bico, comuns na linhagem paterna. “É bebé chinês?”, perguntava Liu, o dono. 
Passaram-se muitos anos, deixámos o colégio e o bairro, comecei a pôr de lado a carne (noutro dia falo-vos disso) e o bebé chinês já vai para o 10º ano, o mesmo em que eu devo ter começado a frequentar o restaurante, que, aliás, continua igual. A grande sala, que parece difícil de encher mas está sempre composta, a música ambiente de embalar, a rapidez do serviço e a boa relação preço-qualidade (que profissional que isto agora ficou!). Diz-se que os restaurantes chineses não servem a verdadeira comida da China (parece que há pela cidade um ou outro onde de facto se vêem chineses a comer – qualquer dia vou pesquisar e conto-vos como foi). Não faço ideia mas desconfio que assim seja. A verdade é que, mesmo depois de passada a moda (ouvi dizer que as inspeções alimentares em muito contribuíram para o fecho de vários restaurantes), perdida sobretudo para as tendências nipónicas (com que muitos chineses já se fundiram), soube-me bem voltar ao Liu; mesmo com o acréscimo de dois televisores ligados na novela e alguns calendários de 2012 na parede; e mesmo sem Liu, que, segundo me disseram, apesar de continuar dono do “Hao Hua”, está agora para os lados de Sintra, em mais um negócio da China.

Gustavo Duarte

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