O homem estava sentado à minha frente. O metro parou, no Intendente, e
entra uma mulher, a sua, a quem
procurava desde Arroios. Ambos teriam mais de sessenta anos. Imaginei o homem,
professor, já reformado, e a mulher, talvez professora, também, mas de artes
visuais; ele tinha um ar mais intelectual do que artístico.
A pose do professor era delicada. Afinal, esperava a sua amada, que perdida
no tempo e com o tempo, entrou no metro duas paragens depois do combinado entre
eles. Por coincidência, o lugar mesmo ao lado do homem foi deixado livre, e a
senhora sua mulher, agitada, sentou-se imediatamente.
Eu vinha a ler mas senti uma ansiedade que me desassossegou. Sempre que me
desassossegam fico atenta. Se o movimento é da alma, deixo-o invadir-me, e
vivo-o. Era então a mão da mulher que delicadamente pousava no pescoço do homem
e, o envolvia, apenas. Depois, ambos colocaram a mão uma sobre a outra e, assim
ficaram, apenas.
E foi assim que eu também fiquei. Pensando, apenas, que há uma idade onde os
corpos se calam para deixarem, delicadamente, falar o gesto lento da alma.
Ana Paula Lemos
Ana Paula Lemos
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