quinta-feira, 4 de setembro de 2014

রেস্টুরেন্ট (restaurante)


Tentei ir ao Bangla três vezes...Como não há duas sem três e à quarta é de vez, aqui fica a minha crónica.
A primeira vez, ia sozinha, descobrindo Lisboa a um sábado pela manhã, quando dou de caras com o Bangla. Quis entrar. Mas, o Bangla, como seria expectável, estava cheio de imigrantes bengali tomando calma e serenamente o pequeno almoço, enchendo, assim, as mesas e o balcão.
Aliás, foi o movimento, eram ainda dez da manhã, que me chamou a atenção. Apesar de ser um restaurante, e isso podia ler-se na fachada, a mim pareceu-me uma cozinha comunitária, não tanto pelo aspecto, que mal podia perceber, mas pelo movimento, íntimo, que os clientes pareciam ter com o espaço e, uns, com os outros. Como procurava uma Lisboa desconhecida, mas contemporânea, registei o Bangla na memória. E por cá ficou.
Numa das voltas, agora guiando um grupo, a caminho do Intendente, chamei a atenção do Bangla, passávamos nós, então, pela Rua do Bem Formoso. Uns quantos aventureiros, entraram de imediato no restaurante, compraram chamuças, acharam boas e, de novo, o cheiro do Bangla ficou-me na memória. Era, portanto, a segunda vez que passava pelo restaurante e não entrava.
A terceira vez, que tentei ir ao Bangla, estava acompanhada por uma amiga, andavamos de novo às voltas por Lisboa, a caminho do Castelo. Mas, não, não entrámos. Era a terceira vez…
Mal tive outra oportunidade, voltei ao Bangla. Desta vez, fiz-me acompanhar de uma portuguesa indianista, um rapaz bengali, e um amigo de ambos. Jantámos nas mesas estreitas do Bangla inundados pelo cheiro da minha memória.
Foi, seguramente, uma das mais ricas experiências que tive em Lisboa. Não tanto pela excepcional qualidade da comida, embora, o Bangla seja um bom restaurante; mas, sobretudo, pela possibilidade que oferece de conhecermos melhor a comunidade bengali imigrante em Lisboa feita de homens sós, que entre si, ao fim de um dia de trabalho, partilham a saudade, palavra que não conhecem, da família que deixaram.
Não falam muito. O olhar, escuro e penetrante, é o vaso que comunica os afectos. Todos os dias, um deles empresta a outro, o telemóvel. O ritual de substituição do cartão que dará acesso ao tempo húmido do Bangladesh, comovente, assemelha-se à recitação do terço sagrado. Do outro lado, a família escuta sem tempo, o dia- a- dia, igual a todos os outros, que terão ouvido pela enésima vez.
O Bangla é um laboratório vivo de uma outra Lisboa, que vale a pena conhecer.

Ana Paula Lemos 




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